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Por que primeira infância?

Na visão da neurociência, a primeira infância se refere ao período desde o nascimento até os cinco anos, ou seja, os primeiros seis anos de vida. Já a primeiríssima infância, ou primeiros mil dias, se inicia na gestação e inclui os primeiros dois anos de vida.

Durante a primeira infância, o cérebro é capaz de se desenvolver de forma única, que não se repete em qualquer outra fase da vida. Além do crescimento físico, há também uma mudança veloz nas habilidades da criança de: 

  • movimento (aptidões motoras)
  • pensamento (aptidões cognitivas ou intelectuais)
  • interação (aptidões sociais)
  • expressão de emoções (aptidões emocionais)
  • expressão de pensamentos e emoções (aptidões comportamentais). 

Quanto mais uma criança desenvolve essas habilidades, melhor ela pode se adaptar ao mundo.

O papel do sistema nervoso

O desenvolvimento humano é complexo e depende do desenvolvimento do sistema nervoso. O sistema nervoso é formado por muitas estruturas diferentes, e aqui vamos falar do cérebro e dos neurônios (células nervosas). 

Por volta da 5ª-7ª semana de gravidez, se inicia o desenvolvimento do cérebro. Até o 6o mês de gravidez, forma-se a maioria dos 100 bilhões de neurônios que um adulto tem, só que ainda estão imaturos. Embora imaturos, são os neurônios que permitem que o feto mexa as pernas e os braços, pisque os olhos, abra e feche a boca. 

Desde o nascimento, o desenvolvimento ocorre segundo uma sequência determinada para a espécie humana, ou seja, não se aprende a ler antes de saber segurar objetos, por exemplo.

O papel do ambiente

Os estímulos do contexto social (ambiente) em que a criança vive influenciarão as modificações biológicas e o funcionamento de seu sistema nervoso e, consequentemente, o desenvolvimento de suas habilidades. Se, no ambiente, existe convívio adequado com pessoas e fatores promotores do desenvolvimento, o sistema nervoso responde positivamente. As interações favoráveis entre a criança e o mundo fazem com que as conexões entre os neurônios (sinapses) sejam criadas e mantidas, e ela alcança seu desenvolvimento pleno. Assim, surge o conceito da neuroplasticidade:

NEUROPLASTICIDADE: capacidade do sistema nervoso de alterar sua forma ou função a partir das influências que recebe do meio ao que está exposto.

Estímulos adequados

No início da vida, a plasticidade cerebral está no nível mais alto para o desenvolvimento da visão e da audição. Ou seja, se a criança recebe estímulo luminoso, ouve e percebe sons, terá o correto desenvolvimento da visão e da audição, exceto no caso de deficiências biológicas. Daí, a importância do teste do olhinho e da orelhinha: para avaliar se a criança consegue perceber os estímulos visuais e sonoros!

A linguagem, por sua vez, se desenvolve a partir dos sons que chegam ao bebê e vai se aprimorando durante os primeiros dez anos de vida. Além disso, na primeira infância, ocorre o pico da formação de sinapses. Isso leva às aptidões de memória, atenção e pensamento crítico na pessoa adulta.

Estímulos inadequados

A falta de estímulos, ou estímulos inadequados, levam a um estresse danoso ao desenvolvimento da criança que pode impactar sua vida como um todo. O estresse é um estado em que nosso organismo se prepara para uma “ameaça” e os sistemas nervoso, endócrino e imunológico ficam em alerta.

Quando a criança percebe que a ameaça é pequena, ou quando recebe ajuda de um adulto para superar a situação ameaçadora, diz-se que o estresse é benigno porque ajuda a pessoa a se adaptar ao mundo e aprender novas habilidades. Isso ocorre, por exemplo, quando a criança recebe uma vacina: ela pode chorar muito no começo, mas se mãe ou pai estão com ela, dizem palavras de conforto e elogiam sua capacidade de aceitar a vacina, a criança pode reduzir seu comportamento arredio com o passar do tempo.

Se o estímulo ameaçador for intenso ou frequente, o estresse é “tóxico” para o organismo da criança – por exemplo, a sensação de abandono. O estresse tóxico, no futuro, está associado a um risco aumentado de doenças como infecções, diabetes, ansiedade e depressão no adulto, entre outras.

Além disso, mudanças na saúde física na primeira infância (por exemplo, prematuridade, atraso no crescimento, infecções graves e repetidas) estão associadas a dificuldades de aprendizado e notas baixas na escola.

Lembrete: “Associar” não significa “causar”, mas sim, um risco de ocorrer algo no futuro

Mensagem final

O ser humano se desenvolve a partir de interações entre o organismo e as experiências. Uma gravidez saudável e um bom desenvolvimento na primeira infância, nos aspectos biológico, emocional, comportamental, social e mental, é a base para um jovem e adulto com mais saúde física e mental, melhor desempenho nos estudos, melhores condições de trabalho e menos propensos a se envolver em comportamentos de risco, como uso de drogas ou crime.

Bibliografia: 

  • Costa JSM, Louzada FM, Macedo L, Santos DD, Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância (Org.). Funções executivas e desenvolvimento infantil: habilidades necessárias para autonomia – estudo III. São Paulo: Fundação Maria  Cecilia Souto Vidigal – FMCSV, 2016.
  • Lent R (Coord.). Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2021.
  • Santos DD, Porto JA, Lerner R, Coordenação Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância. 2. ed. São Paulo: Fundação Maria  Cecilia Souto Vidigal – FMCSV, 2015.

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