Autora: Fernanda Bardela
- Mãe, Administradora e Educadora Parental
- CEO da Parentallis (https://www.parentallis.com.br)
Quando nasce uma criança, nasce também uma mãe — e com ela, uma avalanche de expectativas, pressões, julgamentos e desafios. A parentalidade consciente nos convida a repensar o que é ser pai ou mãe nos dias de hoje. Mais do que um ideal a ser alcançado, trata-se de um caminho de autoconhecimento, quebra de padrões e cuidado com quem cuida.
O que é parentalidade consciente?
Parentalidade consciente é estar presente e responsável na relação com os filhos. É compreender que, mais do que técnicas ou receitas, educar uma criança exige olhar para dentro: quais são minhas dores? Minhas expectativas? O que estou projetando neste pequeno ser?
O ponto de partida é simples, mas profundo: “não é sobre mudar o comportamento da criança, é sobre compreender o que esse comportamento comunica — e o que ele ativa em mim”. Isso exige coragem para revisitar a própria história e reconhecer traumas, padrões familiares e reações automáticas que, muitas vezes, repetimos sem perceber.
O peso invisível da perfeição materna
Muitas mães buscam respostas rápidas para resolver birras, sono, alimentação — e, por trás disso, sentem culpa por não estarem fazendo tudo “certo”. Mas a maternidade possível não tem receita pronta. A ideia de perfeição materna, tão difundida nas redes sociais, só reforça a solidão, o cansaço e a sensação de fracasso.
Parentalidade consciente é admitir que a gente se irrita, que às vezes quer sumir, que tem dias em que o choro da criança ecoa numa cabeça exausta. E tudo bem. O ponto de virada está em saber parar, respirar, reconhecer o que se passa e escolher responder — não apenas reagir.
Do castigo à pausa positiva: o que ensinar de fato?
Muito se fala sobre métodos para disciplinar crianças, mas práticas como o “cantinho do pensamento” não ensinam autorregulação — apenas isolam uma criança que ainda não sabe nomear o que sente. “Se nem nós, adultos, conseguimos pensar com clareza quando estamos no auge da raiva ou da frustração, como esperar isso de uma criança?”
Em vez de castigar, a proposta é acolher. E, se for preciso, pausar. A chamada “pausa positiva” é uma ferramenta poderosa: é a mãe (ou o pai) que se retira por alguns minutos para se regular emocionalmente antes de conduzir a situação. É reconhecer os próprios limites para não ultrapassá-los em cima da criança.
Trauma não é só o que acontece — é o que fica
Muitas famílias relatam que “nunca apanharam” e, por isso, acreditam não terem vivenciado traumas. Mas a violência pode ser sutil: crescer sem poder expressar sentimentos, ser silenciado, não ter suas dores reconhecidas. Tudo isso deixa marcas.
Parentalidade consciente não é sobre culpar gerações anteriores, mas sobre interromper ciclos. É entender que nossos pais deram o que puderam, com os recursos que tinham. Agora, cabe a nós fazer diferente — não por oposição cega, mas por intenção consciente.
Cuidar de si para cuidar melhor
Se a criança precisa de um adulto regulado para se regular, o autocuidado não é luxo: é necessidade. Mas muitas mães já nem sabem mais o que gostam. Sentem culpa por desejarem cinco minutos sozinhas, um banho tranquilo, um sorvete no meio da tarde.
Resgatar esses pequenos prazeres é também um gesto de educação. Afinal, as crianças aprendem mais com o que veem do que com o que escutam. Uma mãe que cuida de si mostra, na prática, que descanso, prazer e limites fazem parte de uma vida saudável.
E o papel do pai?
Embora muitas famílias ainda concentrem a carga mental e emocional na figura materna, é urgente envolver os homens nesse processo. Muitos pais dizem que “não sabem o que fazer” ou esperam que a mãe peça ajuda. Parentalidade consciente também é responsabilidade paterna — não como apoio, mas como presença ativa na criação dos filhos.
Uma infância longa pede presença, não pressa
A infância humana é a mais longa entre os mamíferos. Isso tem uma razão: é o tempo necessário para se desenvolver, física e emocionalmente. Não há atalhos. Pressionar a criança para ser “autônoma” aos 3 anos ou “racional” aos 5 é não respeitar o tempo do desenvolvimento.
Presença não é perfeição.
É estar ali, mesmo imperfeito,
mas disposto a aprender, reparar, acolher e se cuidar.
É disso que as crianças precisam.