Você já postou aquela foto fofa do seu filho e, segundos depois, recebeu uma chuva de curtidas e comentários?
Esse hábito, cada vez mais comum entre mães e pais, tem até nome: sharenting — junção de share (compartilhar) e parenting (cuidar dos filhos). O termo descreve quando publicamos fotos, vídeos e informações sobre nossos filhos nas redes sociais.
E não é algo raro. Nos Estados Unidos, 98% das mães e 89% dos pais entrevistados disseram postar fotos dos filhos no Facebook (Bartholomew et al., citado por Gatto et al., 2024). No Brasil, um estudo com pais de crianças de 0 a 6 anos no Distrito Federal mostrou que 94% já publicaram imagens ou vídeos dos filhos.
Os principais motivos? Guardar lembranças (85%), compartilhar com familiares distantes (67%) e expressar orgulho (54%). Apenas 12% conheciam algum risco envolvido (Arantes e Morais, 2022).
Mesmo com boa intenção, essa exposição pode trazer consequências que merecem atenção.
O que é sharenting e quais são os riscos para crianças?
No Brasil, a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) garantem o direito à imagem e à privacidade das crianças — mesmo quando são os pais que decidem postar (Costa et al., 2023; Santos et al., 2023).
Postagens sem cuidado podem expor as crianças a:
- constrangimento ou vergonha no futuro;
- cyberbullying;
- exploração sexual;
- roubo de identidade;
- uso indevido de dados pessoais.
Outro ponto importante é a identidade digital precoce: criar um histórico online antes que a criança possa opinar pode afetar sua autoestima e reforçar estereótipos. Além disso, fotos aparentemente inocentes podem ser manipuladas ou usadas de forma indevida (Leonard, 2023).
Como postar fotos de filhos de forma segura
Sim, é possível compartilhar momentos especiais e manter a segurança. Para isso, siga algumas orientações simples (Gatto et al., 2024; Kumar, 2023):
- Pense antes de postar
Pergunte-se: “Meu filho ficaria confortável vendo essa foto no futuro?” - Proteja informações pessoais
Evite nome completo, endereço, nome da escola, uniforme ou rotina. - Configure a privacidade — mas não confie totalmente
Perfis restritos ajudam, mas não impedem que o conteúdo seja salvo ou repassado. - Nunca poste fotos com nudez
Mesmo em momentos inocentes, como banho de mar, há risco de uso indevido. - Envolva a criança
Se ela já compreender, pergunte se quer que aquela foto seja postada.
Ter perfil privado protege totalmente?
Não. Um perfil fechado reduz a exposição, mas não elimina o risco.
Quem tem acesso ao conteúdo ainda pode salvar ou compartilhar as imagens sem autorização. A segurança também depende de senhas fortes e cuidados contra invasões.
O papel dos pais na era digital
Nós, como pais, somos guardiões da imagem e da história online de nossos filhos.
Praticar o sharenting consciente não significa deixar de registrar e compartilhar, mas sim fazer isso de forma que preserve a dignidade, a segurança e o direito da criança de decidir sobre sua presença digital no futuro.
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Referências
— Arantes MCBA, Morais EA. Sharenting na primeira infância: um estudo com pais no Distrito Federal. Rev Bras Educ Inf. 2022;1(2):45-60.
— Costa CF, Pereira LFR, Almeida RJS. Sharenting e direito: proteção jurídica da imagem e privacidade da criança. Rev Dir Inf. 2023;5(1):12-25.
— Gatto A, Corsello A, Ferrara P. Sharenting: hidden pitfalls of a new increasing trend – suggestions on an appropriate use of social media. Ital J Pediatr. 2024;50:15.
— Kumar S. Mindful sharenting: protecting children in the digital age. J Child Media. 2023;17(3):455-470.
— Leonard M. The dangers of posting sensitive information about children on social media. Child Saf Online J. 2023;2(1):33-40.
— Santos MFS, Oliveira JPR, Silva LFR. Sharenting e bioética: revisão integrativa. Rev Bioet. 2023;31(1):85-97.