Saltos de desenvolvimento: não se dá um passo maior que as pernas

1 Pra começo de conversa

Diversos informativos, redes sociais e grupos de divulgação e comunicação de notícias afirmam que existem períodos conhecidos como “saltos” ou “janelas” de desenvolvimento do bebê. Os estudos longitudinais, que acompanham as crianças por anos e décadas, mostram que não existe essa ideia de pular fases, ou mesmo avanços rápidos sem esforços, em seu desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social.

Ainda que existam controvérsias sobre as teorias do desenvolvimento infantil, e estejam embasadas em ciências, o que grande parte dos estudos bem reconhecidos afirmam é que podem existir os períodos críticos, sensíveis e a plasticidade ou neuroplasticidade cerebral. Isso é o que garante que as crianças adquiram novas habilidades e alcancem marcos importantes em seu crescimento e desenvolvimento.

Essas etapas de desenvolvimento são caracterizadas por mudanças significativas nas habilidades motoras, linguagem, cognição e interação social das crianças. Mas, não são “pulos de etapas” , e sim uma aquisição de habilidades e/ou mesmo estimulação, em momentos específicos durante os primeiros anos de vida, e são consideradas etapas importantes no processo de crescimento e aprendizado.

A proposta dos “saltos” de desenvolvimento sugere que a criança adquire novas habilidades em períodos determinísticos, as quais são acompanhadas por comportamentos críticos de regressão dos bebês. Segundo relatos, isso tem causado ansiedade nas mães à espera de tais saltos. 

2 Fato, fake ou não é bem assim?

Não é beeeeeeem assim

Embora o argumento do “saltos de desenvolvimento” seja bem popular, não é uma teoria com respaldo teórico importante, quando comparado a outras mais investigadas e aceitas.

De qualquer forma, nota-se que os marcadores de desenvolvimento neuropsicomotor do bebê continuam os mesmos nas diferentes teorias. Como exemplo, cita-se indicadores biológicos, no primeiro ano de vida:

• Entre as 4 e 5 semanas de vida: os bebês começam a mostrar maior interesse pelo ambiente ao seu redor e podem começar a acompanhar objetos com os olhos.
• Por volta dos 5 meses de idade: os bebês desenvolvem uma visão mais clara e começam a perceber melhor as formas, núcleos e distâncias.
• Entre os 9 e 12 meses de idade: os bebês começam a balbuciar, imitar filhos e tentar se comunicar de forma mais ativa.
• Por volta dos 12 meses de idade: os bebês começam a engatinhar, ficar de pé e dar os primeiros passos.

3 E daí?

Os marcadores ou indicadores biológicos são descritos pela ciência há mais de duas décadas. Os “saltos de desenvolvimento” são controversos, quando comparados a outras teorias de desenvolvimento da criança.

Porém, independente da teoria, a subjetividade do ser humano se desenvolve em seu próprio ritmo e pode atingir esses marcos em momentos diferentes.

O acompanhamento do desenvolvimento infantil por profissionais de saúde, como pediatras, psicólogos, odontopediatras, enfermeiros, fonoaudiólogos, fisioterapeutas ou nutricionistas é fundamental para identificar qualquer atraso ou necessidade de intervenção.

Você, mamãe, papai ou cuidador, busque adotar uma linha de pensamento que faça sentido para seu bem-estar, e tenha atitudes que promovam o desenvolvimento do seu bebê da forma mais conectada e divertida possível.

Referências:

Belsky, J. (2005). Differential susceptibility to rearing influence: An evolutionary hypothesis and some evidence. In B. Ellis & D. Bjorklund (Eds.), Origins of the social mind: Evolutionary psychology and child development (pp. 139–163). New York: Guilford

Bornstein, M. H., Putnick, D. L., Cote, L. R., Haynes, O. M., & Suwalsky, J. T. D. (2015). Mother-infant contingent vocalizations in 11 countries. Psychological Science, 26(8), 1272-1284. https://doi.org/10.1177/0956797615586796

Bruer, JT (2001). Uma cartilha de período crítico e sensível. Em DB Bailey, Jr., JT Bruer, FJ Symons e JW Lichtman (Eds.), Pensamento crítico sobre períodos críticos (pp. 3–26). Publicação Paul H Brookes.

Knudsen, E.I. (1999). Early experience and critical periods. In M.J. Zigmond (Ed.) Fundamental neuroscience (pp. 637 – 654). San Diego, CA : Academic.

Kuhl, Patricia & Conboy, Barbara & Padden, Denise & Nelson, Tobey & Pruitt, Jessica. (2005). Early Speech Perception and Later Language Development: Implications for the” Critical Period”. LANGUAGE LEARNING AND DEVELOPMENT. 1. 237-264. 10.1207/s15473341lld0103&4_2.

https://www.todaysparent.com/baby/baby-development/what-is-all-the-fuss-about-the-wonder-weeks/

Para entender os defensores dos “saltos de desenvolvimento”: